Manifesto Preto

O Coluna Preta surge para fazer frente a uma situação que se perpetua por anos em nossa sociedade: a invisibilidade dx negrx. No Brasil, sociedade predominantemente negra e afrodescendente, é de se estranhar que apenas 10% dos livros publicados entre 1965 e 2014 sejam de autores negros. Na educação, 22,2% da população branca tem 12 anos ou mais de estudo, enquanto na população negra a taxa é de 9,4 %. O índice de analfabetismo em 2016 entre os negros era de 9,9 %, mais que o dobro entre os brancos. Nos cursos superiores, em 2010, os negros representavam 29% dos estudantes de mestrado e doutorado, 0,03% do total de aproximadamente 200 mil doutores nas mais diversas áreas do conhecimento e somente 1,8 % entre todos os professores da Universidade de São Paulo (USP). Esse é o altíssimo preço que ainda pagamos pelo abandono da população negra após a Lei Áurea. Joaquim Nabuco dizia que os brasileiros estariam condenados ao atraso enquanto não resolvessem o problema da escravidão de forma satisfatória, e que era preciso incorporá-los à sociedade como cidadãos de pleno direito. Percebemos até hoje as marcas dos grilhões em nossa sociedade. 
Sua data de lançamento não poderia deixar de ser um dia de luta. O dia 25 de julho nasce a partir do 1º encontro de Mulheres Negras Latinas e Caribenhas. A data é um marco de luta das mulheres negras contra a desigualdade que atinge massivamente a população negra. Embora a população negra corresponda a 54% da população brasileira — conforme os dados do IBGE — essa parcela populacional é a que mais sofre com a pobreza no Brasil e, conforme o Mapa da Violência, é a parcela da população que mais sofre com a violência. O Brasil, como os demais países latino- americanos, possui uma tradição colonialista e escravocrata, o que torna diária a luta contra as mazelas do racismo estrutural. No Brasil, a presidenta Dilma Rousseff sancionou a Lei nº 12.987/2014 que instituiu o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Tereza de Benguela foi uma heroína negra esquecida pela historiografia nacional. Tereza viveu no século XVIII e foi casada com José Piolho, que chefiava o Quilombo do Piolho até ser assassinado. Foi o maior Quilombo do Mato Grosso. Com a morte de José Piolho, Tereza se tornou líder e sob sua liderança a comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por duas décadas. Durante nossa formação escolar aprendemos sobre os clássicos e renomados intelectuais da história do pensamento ocidental, mas temos pouco contato com personalidades negras ou com sua produção. Percorrer essa jornada e compreender todo o desdobramento teórico dos grandes clássicos é de suma importância. Não se deve esquecer, contudo, que todo esse legado foi construído de forma excludente, desconsiderando as experiências e perspectivas da população negra e indígena. 
Desse modo, esse blog se constitui como um espaço de resistência que coloca em evidência as pessoas pretas e suas produções. Arte preta. Feminismo preto. Filosofia preta. Geografia preta. História preta. Literatura preta. Moda preta. Que as pessoas e os assuntos sejam todos pretos!

Mônica Soares e Álvaro de Souza Maiotti

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